O tratamento descrito abaixo foi realizado no Arquivo Municipal de Lisboa durante o estágio que eu fiz em 2010. Apresentei o relato dessa experiência no curso da Lupa (empresa do Luis Pavão em Portugal) no IEB-USP (Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo) em dezembro do mesmo ano e segue agora revisado e atualizado.
Quando iniciei o estágio encontrei a coleção espalhada numa sala, sobre as mesas. Segundo o professor Luis Pavão, se tratava da Colecção da Divisão de Projecto e Planeamento, que havia chegado no arquivo há cerca de dois meses e parte delas se encontravam molhadas. Como ação emergencial foram distribuídas dessa forma pelo espaço, para que pudessem secar mais rapidamente e sem aderirem umas às outras.
As fotografias estiveram em contato com a água provavelmente durante alguns dias, pois as emulsões encontravam-se fragilizadas e com desprendimentos. Outra deterioração causada pela água foi a deformação das fotografias: uma parte dos cartões colados separaram-se, resultando em ondulação, vincos e mesmo rasgos. Das 25 provas coladas em cartão, 9 estavam em estado mais fragilizado, com perda de emulsão e perda parcial da imagem.
Em primeiro lugar foi feito um inventário da coleção com a identificação dos processos, quantidades e tamanhos.
Foi decido o descarte de duplicatas, e que o tratamento seria dado as provas coladas em cartão (fotografias aéreas) e provas com encurvamento (plantas e maquetes) – ambos os conjuntos se tratavam de prova de revelação em papel baritado.
O tratamento escolhido foi a limpeza e remoção dos cartões por meio aquoso: por total imersão em água. Essa é uma decisão bastante polêmica por conta da fragilidade da emulsão, porém, apesar disso, muitas vezes se torna uma intervenção mais segura por ser mais rápida e por agir em toda a fotografia ao mesmo tempo, evitando deformações. Essa decisão também considerou o fato de que a cola do suporte secundário era solúvel em água, já que as fotografias coladas em cartão mostravam desprendimento do mesmo nas regiões que estiveram na água.
Para a remoção dos cartões ácidos e limpeza das provas foram seguidos os seguintes passos:
- Tomar notas das inscrições no verso das provas (quando houver);
- Fotografar a prova mostrando ondulação, levantamentos, perdas da emulsão;
- Mergulhar a prova inteira numa tina com água da torneira;
- Aguardar aproximadamente 20 minutos para que a prova absorva água;
- Assim que a cola soltar-se, remover o cartão;
- Passar para uma água limpa e com os dedos remover sujeiras com muito cuidado, não tocar nas áreas em que a emulsão está a levantar;
- Terceira imersão em água com “Agepon” (agente molhante, como o photo flo);
- Tempo máximo de imersão 60 minutos (total de banhos);
- Remover a prova da água com as duas mãos;
- Colocar na horizontal sobre vidro acrílico e escorrer a água com limpa vidros no verso da prova;
- Colocar sobre as redes com emulsão para cima;
- Deixar secar até perder a maior parte da água;
- Quando seca colocar entre mata-borrão e com reemay sobre a emulsão;
- Colocar na prensa seguindo o esquema (de baixo para cima): placa com cartão de conservação, cartão de conservação, mata-borrão, prova, reemay, mata-borrão, cartão de conservação e por último outra placa com cartão de conservação;
- Deixar na prensa de um dia para outro;
- Retirar da prensa, anotar no verso a lápis a anotação original que se encontrava no cartão ácido;
- Colocar as provas entre mata-borrão sob vidro pesado.
Após tratamento: